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Publicado em Outubro de 2019 na AvA Musical Editions

Disponível digitalmente no nkoda

 

Obra da lista de repertório do IV Concurso Adácio Pestana (2020) e da Matosinhos Internacional Competition 2024.

Esta peça foi escrita para o trompista Andrew Savage, em agradecimento por este ter concordado em colaborar com a minha investigação de doutoramento. Mirage é uma peça claramente influenciada pelas sonoridades do sul de Espanha e a sua relação com o mundo muçulmano.

Na maioria das secções é utilizado o modo frígido dominante. Ao invés de optar por armações de clave convencionais e adicionar alterações locais, uma prática claramente influenciada pelas limitações impostas pelos softwares de notação musical, sempre que necessário optei por recorrer às armações de clave correspondentes ao modo frígio dominante, uma vez que atualmente, graças ao Dorico (Steinberg) os compositores já não se encontram limitados às opções tradicionais. É certo, que numa primeira abordagem, pode passar a ideia errada de ser mais difícil de ler devido à existência de um encadeamento de acidentes, que não segue a constelação tradicional. Contudo, desta forma a partitura fica limpa. Além disso são utilizadas sequências de dedilhações que seguem quase sempre uma alternância em que se só se move o segundo dedo.

Entre os compassos 18 e 25 as dedilhações standard (especialmente no lado da trompa Si♭) poderiam tornar-se demasiado difíceis. Para este tipo de passagens costumo utilizar uma técnica que consiste na alteração da posição normal dos dedos da mão esquerda, fazendo cada dedo avançar uma chave. Assim, o primeiro dedo passa para a segunda chave e o segundo dedo avança para a terceira. Desta forma, uma passagem aparentemente não idiomática, por apresentar uma combinação de dedilhações muito difícil de executar com fluidez, torna-se idiomática quando a técnica de execução correta é usada. Este movimento da mão requer uma pausa ou uma nota em que não seja usado nenhum dos 3 dedos, para possibilitar o movimento destes desde/até à nova posição. Como esta técnica não é habitualmente descrita, coloquei uma linha a delimitar a sua utilização e indiquei as dedilhações correspondentes aos movimentos do 1º e 2º dedos na sua nova posição.

No caso dos multifónicos, caso a peça seja interpretada por trompistas com uma tessitura vocal mais aguda, estes deverão ser adaptados mantendo o mesmo carácter da peça. Outros efeitos ajudam à caracterização desta peça, nomeadamente os tremolos que pretendem imitar os de uma guitarra ou as sonoridades de castanholas obtidas batendo com as unhas da mão direita numa surdina de madeira.

Ricardo Matosinhos