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Publicado em Novembro 2023 by AvA Musical Editions
Os estudos, como o próprio nome indica, destinam-se ao ato de estudar. Naturalmente é mais prazeroso praticar uma peça e, por isso, muitas vezes este repertório acaba por ser relegado para uma importância secundária mas, a meu ver, tem importância essencial para o desenvolvimento de um instrumentista. Sou de tal forma um fervoroso adepto deste tipo de repertório, que a minha investigação de mestrado se debruçou sobre a vasta oferta de estudos para trompa publicados desde a segunda metade do século XX. Também contribuí com a escrita de inúmeros estudos para trompa, e pela semelhança entre o eufónio e a trompa, adaptei uma seleção de 10 estudos técnicos aos recursos que o eufónio tem para oferecer. Durante a investigação de doutoramento aprofundei a escrita idiomática para trompa, uma temática que considero intrinsecamente ligada à escrita pedagógica de estudos, visto que a escrita de repertório idiomático requer uma profunda reflexão e um vasto conhecimento prático, de modo a que se possa tirar partido dos diferentes recursos que a o instrumento tem para oferecer. Assim, considero que a escrita de estudos para um instrumento permite, por um lado, auxiliar os intérpretes a superarem desafios e melhorarem a sua performance mas, por outro lado, ajuda também os compositores a conhecerem melhor o instrumento. Especificamente, esta publicação debruça-se sobre aspetos técnicos do Eufónio e cada estudo foca-se em desafios facilmente identificáveis. No entanto, a forma como estão escritos foi pensada meticulosamente, com inúmeros detalhes que irei descrever.
À primeira vista, alguns destes estudos poderão parecer difíceis a ponto de serem impraticáveis. De facto, o meu primeiro método chegou a ser recusado por editores que justificaram a sua recusa, dizendo que apenas publicavam música destinada a ser tocada por humanos. Entretanto, vários anos se passaram e os meus estudos bem como a minha música em geral têm sido tocados um pouco por todo o mundo, e não tenho conhecimento de que já tenham sido tocados por extraterrestres. Assim, o que à primeira vista parece excessivamente difícil, pode revelar-se muito mais fácil e prazeroso do que aparenta ser. Não quero com isso dizer que estes estudos são fáceis; no entanto, considerando os prós e os contras e a forma como tiram partido de pequenas subtilezas do instrumento, acabam por ser mais fáceis do que aparentam. Com isto, contribuem também para eliminar gradualmente muitas barreiras psicológicas criadas pelos próprios instrumentistas. Portanto, do ponto de vista pedagógico sigo o lema de que não há evolução, se tudo for fácil nem tampouco se tudo for difícil. Se não enfrentarmos desafios que impulsionem o progresso, acabaremos por estagnar mas, se tudo for excessivamente difícil, a evolução também se tornará inalcançável. Assim mesmo que um estudo pareça difícil ou muito difícil, certamente terá alguns elementos fáceis ou mesmo muito fáceis para criar equilíbrio. Cabe aos instrumentistas encararem cada um destes estudos com uma mente aberta e, acima de tudo divertirem-se enquanto evoluem, já que o processo demorará menos tempo e será mais prazeroso.
As gravações de exemplo dizem respeito aos 11 Estudos técnicos para trompa, op.94a, a versão de Eufónio contém pequenas diferenças em alguns registos.
1 - Seven o’clock, o primeiro estudo obteve o seu nome pela presença de intervalos de sétima maior. Quando se fala na escrita idiomática para eufónio, os diferentes livros de instrumentação e orquestração alertam para que, especialmente à medida que se começa a subir no registo, sejam usados intervalos facilmente identificáveis como uma terceira, quarta ou quinta, mas, sem sombra de dúvidas, que uma sétima maior não fará parte do rol de intervalos recomendados. Neste estudo, os intervalos de sétima maior e quarta aumentada estão agrupados aos pares, apresentando dedilhações iguais ou similares. Desta forma, embora os intervalos sejam mais difíceis de ouvir, a dedilhação acaba por ajudar. Existem alguns multifónicos opcionais, sendo que foi incluída uma ossia caso o intérprete opte por não tocar os multifónicos.
2 - No segundo estudo Gliding, o instrumentista terá de tirar partido de diferentes velocidades/temperaturas do ar, quase como se o Eufónio fosse um planador. Começa com intervalos de terceira menor, prossegue com terceira maior, quinta e quarta perfeita, sexta maior e finalmente oitava. Os padrões deste estudo não são possivelmente muito diferentes dos exercícios de flexibilidade, que os instrumentistas dos metais costumam usar, mas convenhamos que a forma como são apresentados torna o processo mais divertido!
3 - Two, five, one, ou melhor: ii V I é uma das progressões harmónicas mais comuns e serve de base a este estudo. São apresentados arpejos no estado fundamental, primeira e segunda inversões com notas de passagem que percorrem o caminho entre os arpejos. Entre cada secção com esta sequência surgem outros arpejos, mas o principal objetivo passa por trabalhar de uma forma mais apelativa. É certo que temos de praticar para evoluir, mas ninguém disse que o trabalho tem de ser aborrecido!
4 - O estudo Feeling Diminished? está baseado na escala octatónica (W-H) também conhecida como a escala diminuta. Trata-se de um estudo excelente para praticar quando se sentir em baixo, vai ver que se anima e certamente verá resultados aumentados. Os multifónicos podem ser omitidos ou transpostos à oitava superior, caso sejam executados por um intérprete com uma voz mais aguda.
5 - Chromatic Buzz é um estudo cromático inspirado numa obra bem conhecida de Rimsky-Korsakov, que nesta versão tem como objetivo praticar escalas cromáticas. Assim, do início ao fim, há padrões cromáticos repetitivos que, na dose certa, podem tornar-se divertidos. A pulsação deste estudo é bastante rápida assim, se tocar mais lentamente, terá de adicionar respirações e eventualmente cortar algumas ligaduras.
6 - Não poderia faltar um estudo em estilo de caça e Riding a Horn encarna este propósito de uma forma muito especial. É certo que podem ser usadas outras dedilhações contudo, à exceção dos últimos compassos, todo o estudo pode ser executado usando apenas o primeiro dedo e o quarto rotor. Esta facilidade acrescenta o propósito de trabalhar em comprimentos de tubo mais extensos e aumentar a precisão da altura de sons e dos ataques. As respirações indicadas pressupõem que o estudo seja executado à velocidade indicada, que seja feita uma boa gestão do ar disponível e, ao mesmo tempo, é um elemento de controlo extra para determinar se a embocadura está a produzir som de forma eficaz. Em velocidades mais lentas deverão ser adicionadas respirações adicionais.
7 - Em Follow the Circle basta seguir o ciclo das quintas perfeitas descendentes ou das quartas perfeitas ascendentes. Conseguir economizar ar numa tessitura de várias oitavas é sinal de que a embocadura está a produzir som de forma eficaz. Assim, as respirações indicadas adicionam um desafio extra mas são apenas sugestões. Se este estudo for trabalhado numa velocidade mais lenta serão necessárias respirações adicionais.
8 - O intervalo de quinta perfeita é o intervalo associado a chamamentos. Quintessential eleva este intervalo ao longo do registo do Eufónio inicialmente em movimentos lentos e líricos e posteriormente em saltos ágeis. As passagens rápidas com saltos de quinta perfeita e com semicolcheias tiram partido de dedilhações fáceis. Desta forma, o instrumentista poderá concentrar a sua atenção nos demais desafios que este estudo oferece. Foram incluídas opções mais agudas, caso o intérprete se sinta à vontade com este registo.
9 - Somewhat Spanish tal como o próprio nome indica está relacionado com os ritmos e os motivos melódicos da música tradicional espanhola. Contudo, por se basear na escala de tons inteiros, adquire uma sonoridade diferente do expectável. Como é uma escala, que parte da divisão de uma oitava em partes iguais, é simétrica e solicita dedilhações mais complexas em que é utilizado o terceiro dedo.
10 - Rush Hour trata-se de um estudo muito rápido, ideal para praticar duplo staccato. Para esse fim foi escolhida uma tonalidade com dedilhações fáceis para que o instrumentista se possa concentrar no staccato. Como referido anteriormente, este é um ótimo estudo para executar, propositadamente, trechos longos sem respirar visto que funciona como um elemento de controlo extra da eficácia da produção do som pela embocadura.